INSATISFAÇÃO
Quero partir
Partir somente
Ir a procura da esperança
Não quero prender-me aquí.
A vida está perdendo o sentido
Preciso ir bem longe
Talvez ao infinito
Preciso chegar lá.
O que eu quero é tudo e não é nada
Pois,de que serve um tudo a um pálido lamento?
Tenho a alma ferida de outras eras
Não posso ficar aquí!
Oh! Deus mas sinto-me presa
Presa ao meu destino inseguro
que me faz ficar aquí!
Eu sofri,senhor porém jamais
pude entender por que sofri!
Minha revolta é está aquí
Nesse estranho mundo.
Oh!Senhor,manda por piedade
outro dilúvio!
Preciso ir-me daquí!
Nazaré Varella
Niterói, 29 de abril de 1973
ORAÇÃO
Senhor-Não sei se sou
O que sou,
Prá que vim,
Da onde vim,
Prá onde vou.
Sei apenas que vim .
E vim prá agradecer.
Não vim prá pedir nada!
Pois nada tenho prá pedir.
Agradeço senhor o dia de ontem
Vivi
Agradeço o dia de hoje
Estou vivendo
Agradeço o dia de amanhã
Mesmo que ele não venha prá mim!
Nazaré Varella
Niterói, 24 de dezembro de 1973
SOLIDÃO
Acabou-se a noite.
Já não sei mais nada.
Já não tenho nada.
Já não sei os passos
Que vão sôbre as estradas.
No meu leito frio
Eu estou morrendo
Dentro de um quarto vazio!
Nazaré Varella
Niterói, o3 demarço de 1974
DEVANEIO
Aguardo o dia em que não direi mais
"meu amor"
Aguardo o dia em que não direi mais
"meu coração"
Aguardo o dia em que não estarei à procura de nada,
à espera de nada,nem mesmo de você!
Aguardo o dia em que não terei uma só dor.
Uma só lágrima para verter,um só cansaço!
Então, e só então
Serei una e total!
Todas as dores sairão do meu corpo.
Serei,plena e feliz,
Bela e translúcida!
Aguardo o dia em que atravessarei as paredes como um raio de luz.
Serei clara,clara como o luar!
Serei leve, leve como uma flor!
Serei feliz, feliz como um anjo!
serei feliz, muito feliz!
Depois então, só então que eu me for...
Você dirá:- Ela me amou!
Nazaré Varella
Niterói, 18 de outubro de 1972.
VIDAS SÃO COMO RIOS
No leito gemendo
Lá vai sem parar
Cai-se, se levanta
Chorando a rolar.
Não pára, é a sorte
Que rege. É o destino.
Correndo sem rumo
é o caminho da morte!
Não pára!Não sente
Que quanto mais corre
Mais cedo se lança
No mar, onde morre.
E a vida são rios
seu leito de dores, de quedas,
Nos leva em descida
Por vãos, por desvios,
Rolando, correndo
Qual louca corrente
Do rio da vida
Pro seio da morte.
Nazaré Varella
Niterói, 29 de julho de 1970
Fantasias
Lembranças correm em minha mente,
Dizem o que devo fazer!
Solto minhas fantasias,
Guardadas em segredo.
Forço a lembrança do meu amor.
Sinto cansaço, como nunca senti antes!
Sinto a alma congelar,
Deitada nas ondas estou.
Não tinha mais nada....
Levantei a cabeça, e respirei ,sentindo o céu me esmagar.
Tudo foi surgindo...
Tudo foi além das sensações, dos meus sentimentos.
Tudo se cria através das Fantasias...
Sem elas, a vida transforma-se num vazio!
Niterói, 01 de maio de 2007.
Nazaré Varella
Ressuscitar Os Erros
Seguir!Sentir a vida em todo seu fervor.
Da mais forte alegria a mais profunda dor.
Da mais vil tentação
à mais pura emoção!
Errar! Sem destino, sem leme, sempre errar!
Sem pensar em chegar nem lembrar de voltar.
Ir seguindo somente como sombra no chão.
Que se alonga se encolhe, se espalha no clarão.
Tendo a morte nos olhos ter os olhos na vida
Com a mesma sensação ao chegar na partida.
Vida a fora aturdida, aturdida na vida!
Sem remorso, sem mágoas, sem lembrança empanada
Como nau que se afasta.
Como vaga que se esprai!
Ir assim como vim, confundir-me no nada!
Nazaré Varella
Macaé, 25 de setembro de 1970
A Noite De Um Dia
Tão só na varanda
Ninguém para amar
Ninguém para ver
A noite chegar.
A noite tão fria
Tão negra,tão dura
Como os olhos seus...
E a noite chegou.
O sol se apagou.
Tão só. Santo Deus!
-Me mande uma estrêla
Mande-me um farol
Que seja uma vela
Na noite de um só.
E a noite tão fria
Gelou a sua alma
Gelou o seu peito
Se a aurora chegou
E a noite riscou
Da copa do dia,
A luz que raiou
da estrela do sol,
não virão seus olhos.
Tão branca, tão fria...
Foi como uma vela
Foi como um farol
Na noite de um dia.
Niterói, 18 de julho de 1970
Nazaré Varella
A SALA
Do canto da porta olho a sala.
Uma cadeira de balanço que já não balança mais.
Um relógio antigo, já não bate mais.
Uma mesa e quatro cadeiras de palha..
No fundo, um sofá de três lugares,
mais um de dois lugares.
Uma mesinha de centro.
Um rack uma tv.
Quadros pelas paredes.
Tudo nos seus lugares.
Mais a sala está vazia!
O que vejo não existe mais.
Tudo ficou fotografado na minha mente.
Esta era apenas a sala.
Uma sala tão suave!
Que exalava o perfume da minha mãe.
Na minha alma ficou o vazio de uma sala!
Nazaré Varella
31/03/2003